Se o desaparecimento na última semana da cantora gospel Sara de Freitas Souza Mariano, de 35 anos, na Região Metropolitana de Salvador (BA), já vinha provocando grande comoção entre parentes, amigos e os milhares de fãs e seguidores, a confirmação da morte da artista, com a descoberta de seu corpo carbonizado à beira de uma rodovia, e a revelação feita pela Polícia Civil sobre uma suposta trama para matá-la, arquitetada pelo próprio marido, Ederlan Santos Mariano, de 38 anos, causaram um choque ainda maior. O homem foi responsável por fazer o boletim de ocorrência sobre o sumiço da esposa na delegacia e fez publicações mostrando-se preocupado e consternado. As investigações, no entanto, apontaram que tudo não passava de uma grande mentira. Preso temporariamente, suspeito de feminicídio e ocultação de cadáver, ele admitiu o crime. Entenda o que já se sabe.
A notícia do desaparecimento
Tudo começou na última quarta-feira, quando o marido, Ederlan Mariano – parceiro de carreira da cantora e também figura popular entre os fiéis, com milhares de seguidores –, começou a dizer que Sara estava desaparecida desde o dia anterior, quando havia ido a um suposto encontro de mulheres promovido por uma igreja em Dias D'Ávila, na Região Metropolitana de Salvador. Preocupados, seguidores passaram a questioná-lo sobre detalhes como, por exemplo, do local e o nome da instituição religiosa que teria organizado o encontro. Ele se mostrou irritado e publicou um primeiro "desabafo" sobre o sumiço da mulher. Na gravação, ele chora e chega a falar sobre a dor da filha deles, de 11 anos. Lamenta também por não ter conseguido registrar um boletim de ocorrência, já que alegava que havia perdido o contato com ela num intervalo de apenas 24 horas.
"Eu tenho uma filha de 11 anos que está aqui triste e chorando junto comigo. Tem gente ligando só por ligar... Sara foi para um evento ontem, dia 24, em Dias D'Ávila e não retornou mais... vocês que estão ligando... sei que tem muita gente de coração bom, como tem gente que quer se aproveitar do momento... eu não tenho o cartaz do evento, eu não sei o nome da igreja. Tem gente perguntando o nome da igreja, mas eu não sei. Só sei que foi em Dias D'Ávila, um evento de mulheres. Já fui na delegacia hoje, depois de 24 horas, como fui orientado... nem o B.O eu consegui fazer. O policial me olhou, junto com a minha filha, mandou eu ir nos hospitais. Vou retornar amanhã para fazer o B.O e começar as buscas", diz na gravação.
Corpo é achado queimado às margens de rodovia
Enquanto fãs e parentes ainda aguardavam com angústia notícias sobre o paradeiro de Sara, na tarde de sexta-feira (27) policiais encontraram o corpo dela carbonizado às margens da rodovia BA-093, na altura do trevo de acesso ao Povoado de Leandrinho, no município de Dias D'Ávila. O marido foi responsável por fazer o reconhecimento da identidade, antes da realização das análises forenses.
Em poucas horas, marido vira principal suspeito
As informações levantadas pelos investigadores já davam conta de que, naquela terça-feira do desaparecimento, não havia qualquer evento religioso ou "encontro de mulheres" acontecendo na cidade de Dias D'Ávila, sobretudo contando com a presença da cantora gospel. Antes de sumir, ela chegou a gravar um vídeo no Instagram, onde informava aos seguidores que estava a caminho da cidade, mas não citava nenhum compromisso por lá. Família, amigos e colegas de trabalho, então, começaram a questionar as versões apresentadas por Ederlan. As suspeitas da polícia se tornaram ainda maiores quando a irmã da vítima, Soraya Correia, compartilhou um áudio onde ela dizia que havia flagrado uma conversa no celular do marido entre ele e um traficante de drogas, onde mostrava interesse em adquirir uma arma .
Além disso, a família e o entorno da cantora afirmam que a relação entre os dois era tóxica, porque Ederlan era agressivo, possessivo e, por várias vezes, inclusive violentava a esposa sexualmente, de acordo com declaração do advogado Marcus Rodrigues ao g1. As brigas vinham se tornando cada vez mais constantes.
Prisão e confissão
Ainda na sexta-feira, a Polícia Civil representou pela prisão de Ederlan. O delegado Euvaldo Costa, àquela altura, já entendia que o suspeito era perigoso e que estaria tentando destruir provas de que havia cometido o crime. Na representação pela prisão temporária enviada à Justiça, ele pontuou:
"As evidências apontam que o investigado não só mantinha controle emocional da vitima, sobretudo dos fatos ora investigados, o que se iniciou com a notícia do desaparecimento e evoluiu para homicídio qualificado com ocultação de cadáver, cuja vitima foi encontrada com o corpo carbonizado às margens da BA-093, no trevo de acesso ao Povoado de Leandrinho", destacou. No ofício, ele salientou ainda que "o investigado deixava claro sua intenção de destruir as possíveis provas que estavam armazenadas no celular da vitima e prejudicar as investigações dos fatos, bem como impedir a aplicação da lei penal".
Preso, ele confessou o crime à polícia, de acordo com os investigadores:
"O marido da vítima teve a prisão temporária decretada e cumprida, após a investigação apontá-lo como autor do delito. Em seguida, ele confessou o crime. O homem passou por exames de lesões corporais e está à disposição do Poder Judiciário", disse a polícia em nota.
As investigações continuam e as autoridades afirmam que ainda apuram se outras pessoas estariam envolvidas no crime. O método usado para assassinar a cantora gospel e a motivação para o crime ainda não foram revelados.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa do suspeito.