Não é por acaso que o Comando Vermelho é chamado de organização criminosa. Os filiados em Mato Grosso são cadastrados em planilhas que contém número de matrícula, crimes cometidos e até o "padrinho", criminoso que indicou a pessoa para entrar na facção. Investigações decorrentes da Operação Grená e Operação Red Money, mostraram como o núcleo financeiro do Comando Vermelho funcionava.
Decisão da juíza Ana Cristina Mendes, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, sobre um dos 27 denunciados da Operação Grená revelou detalhes sobre o funcionamento da facção.
Na casa de um dos líderes do Comando Vermelho foram encontrados dois pen drives, com os "cadastros" dos filiados durante a Operação Grená. Cada integrante tinha uma ficha de inscrição com nome completo, apelido, número de matrícula, região onde atua e crimes cometidos.
"Revelam os autos que nesses 'pen drives' havia subpastas, sendo que em uma delas haviam informações quanto à 'função', ou seja, quanto ao papel desenvolvido por cada integrante na facção , e a outra trazia informações quanto à matrícula da rua' e 'matrícula no sistema', que se referia aos nomes dos membros da facção que estão devidamente cadastrados e organizados".
Por causa dos altos valores movimentados pelo grupo a facção criou um núcleo "responsável por circular esses valores ilegais nas contas bancárias dos próprios integrantes da facção e de terceiras pessoas (inclusive pessoas jurídicas) de maneira fracionada, para não o deixar estático, expurgando eventual suspeita de órgãos de controle e fiscalização quanto ao acúmulo de riquezas", diz trecho da decisão.
Esse núcleo financeiro tinha pessoas de maior grau, que movimentavam valores acima de R$ 700 mil, e tinha proximidade com as lideranças do CV. Um dos homens desse alto escalão das finanças ciou uma empresa de informática para movimentar os recursos financeiros da organização.
"Com levantamento bancário do sigilo da referida empresa (...) a autoridade policial verificou que no período de 03/02/2017 a 30/05/2017, a pessoa jurídica movimentou mais de R$ 775 mil entre entrada e saída de capital (depósitos e transferências), de modo que mais de 80% dessas operações bancárias, em quantias fracionadas, se viram feitas de modo oculto, isto é, sem a identificação do depositante".
Um dos investigados J.S., foi "responsável por utilizar sua conta bancária para realizar com outros integrantes da organização criminosa e com empresas criadas para a lavagem de dinheiro, operações financeiras de valores milionários - que ultrapassam a cifra de um milhão de reais - para o Comando Vermelho, provenientes da prática de crimes, em especial do comércio da substância entorpecente e de armas de fogo de uso restrito, sobremodo a ocultar e dissimular a origem ilícita desses recursos".