Com os preços nas bombas agora em US$ 4,15; quase o dobro da média de 2020 de mais ou menos US$ 2,18 o galão, e em máximas históricas (antes de contabilizar a inflação), os americanos estão incrivelmente sensíveis às mudanças de preços.
Andrew Van Dam, WP Bloomberg – Quando o preço do petróleo bruto disparou para novas máximas no início de março após a invasão da Ucrânia pela Rússia, o mesmo aconteceu com os preços da gasolina. Eles aumentaram 17% em pouco mais de uma semana.
Mas quando os preços do petróleo bruto diminuíram – eles estão agora mais de 20% abaixo da alta registrada em março, nos Estados Unidos – os valores da gasolina baixaram um pouco, mas continuaram elevados.
Esse padrão é tão comum, sobretudo com os preços da gasolina, que os economistas têm até um apelido para ele: efeitos foguete e pena. Quando os preços do petróleo bruto sobem, os preços na bomba costumam disparar como um foguete. No entanto, quando os preços do petróleo diminuem, eles tendem a cair aos pouquinhos, como uma pena.
Esse fenômeno amplamente documentado ajuda a explicar por que a gasolina continua cara, mesmo conforme o petróleo bruto fica mais barato; e por que os postos de gasolina tendem a embolsar lucros maiores quando os preços estão caindo do que quando eles estão subindo.
Economistas e formuladores de políticas oferecem diversas razões para os efeitos foguete e pena, desde a ganância corporativa até conluio, mas a maior força por trás desses efeitos talvez seja simplesmente o interesse do consumidor.
Os motoristas compram com mais cautela – e obrigam os postos de gasolina a competir entre si – quando os preços estão subindo, disse o economista da Clemson e especialista em preços de gasolina, Matthew Lewis.
Quando os motoristas passam por um posto de gasolina e veem um preço acima do que esperavam, eles acham que podem conseguir um preço melhor em outro lugar, disse Lewis. Eles não se dão conta de que os preços à vista do West Texas Intermediate estão fazendo os preços da gasolina subirem em todos os lugares, então eles dão uma olhada nos preços de mais alguns postos antes de abastecer.
Mas se essas mesmas pessoas parassem e vissem um preço menor do que esperavam, provavelmente elas achariam que aquela era uma boa oferta – elas não fazem ideia que os preços do petróleo estão ainda menores que o mostrado naquele posto. Elas abastecem imediatamente, sem precisar passar por outro lugar para pesquisar.
Esse padrão é corroborado pela análise de Lewis a respeito do tráfego na Internet para a plataforma de comparação de preços GasBuddy, publicada na revista acadêmica Journal of Industrial Economics. As pessoas checam muito mais o site quando os preços estão subindo, mas praticamente o ignoram conforme eles caem.
Com os preços nas bombas agora em US$ 4,15; quase o dobro da média de 2020 de mais ou menos US$ 2,18 o galão, e em máximas históricas (antes de contabilizar a inflação), os americanos estão incrivelmente sensíveis às mudanças de preços. Quando os da gasolina estão muito mais altos que o pago pelos motoristas nos últimos tempos, é mais provável que eles reduzam o uso do automóvel e procurem por preços melhores, de acordo com pesquisas adicionais de Lewis e seus colaboradores.
Do outro lado dessa equação, os postos de gasolina tendem a obter a maior parte de seu lucro quando os preços estão caindo como uma pena. Quando os preços disparam vertiginosamente, os donos de postos ganham menos e podem perder dinheiro no ambiente hipercompetitivo gerado pela gasolina cara.
Em média, os postos usufruíram de margens de lucro muito maiores em 2020, quando os preços estavam mais baixos, do que em 2022, quando os preços atingiram máximas recordes. No auge do confinamento da pandemia em 2020, os consumidores não estavam comprando tanta gasolina, mas os postos estavam embolsando 87 centavos de dólar para cada US$ 2,07 por galão vendido, de acordo com dados fornecidos ao Washington Post pelo Serviço de Informações sobre o Preço do Petróleo (OPIS, na sigla em inglês), uma empresa da Dow Jones. No final de março, os postos cobravam US$ 4,24 por galão, mas faturaram apenas 36 centavos de dólar a cada galão vendido.
Muitos postos de gasolina compram o combustível no atacado uma vez a cada três ou cinco dias, disse Patrick De Haan, chefe de análise de petróleo da GasBuddy. Quando os preços sobem rapidamente, aqueles que reabastecem seus estoques primeiro são atingidos pelos preços altos, mas não podem repassar isso aos clientes, pois um concorrente do outro lado da rua talvez tenha alguns dias de estoque pelo preço antigo.
Por isso, muitos postos perdem dinheiro com a venda de gasolina à medida que os preços sobem. Se aumentarem os valores cobrados antes de seus concorrentes, eles podem perder inúmeros clientes atentos aos preços – consumidores que entram na loja de conveniência e compram alguns produtos que talvez também estejam mais caros. Leva alguns dias para os postos de gasolina repassarem suas despesas maiores, disse De Haan.
“Depois de três ou quatro dias os postos começam a repassar os aumentos”, disse De Haan. “Até lá, isso significa que eles cobram menos do que pagaram durante 72 ou 96 horas. Então eles ficam para trás e perdem bastante dinheiro.”
Os postos podem compensar essas perdas sendo lentos ao baixar os preços nas bombas conforme os preços do petróleo caem. E se eles caírem o suficiente, os postos podem conseguir um grande lucro.
“O maior mito é que os revendedores adoram quando o preço sobe, porque eles ganham muito dinheiro”, disse Tom Kloza, chefe global de análise de energia da OPIS. “A realidade é que eles adoram quando o preço cai.”
Quando os preços do petróleo bruto caem, os preços na bomba podem ser mantidos por “conluio tácito”, disse Lewis, da Clemson. Isso soa desonesto, mas é um processo completamente legal no qual os proprietários de postos de gasolina – sem se comunicarem por qualquer outro meio além das placas com os preços acima de suas bombas – percebem por conta própria que todos se beneficiarão se os preços permanecerem altos, então ninguém quer ser o primeiro a baixá-los.
“Sejamos realistas, os postos de gasolina são um negócio com fins lucrativos”, disse De Haan. Eles não estão querendo entrar em falência perdendo dinheiro quando os preços sobem e, depois, dando um tiro no próprio pé ao baixar o preço muito rápido quando eles diminuem.”
Mas se os revendedores não ganham dinheiro quando os preços estão subindo, quem ganha? Segundo os economistas, embora as refinarias talvez percebam alguns efeitos benéficos temporários, elas são pressionadas pelas mesmas forças que esmagam as margens de lucro dos revendedores. Portanto, no final, tudo volta para as empresas e países que de fato extraem o petróleo.
“Qualquer um que esteja produzindo petróleo está ganhando muito dinheiro neste momento”, disse Severin Borenstein, economista da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e chefe da pesquisa sobre os efeitos foguete e pena. “Isso não significa que os produtores de petróleo estejam fazendo algo anticompetitivo”, esclareceu em seguida, “apenas que eles são os sortudos beneficiários de um mercado conturbado que está elevando o preço de mercado para muito acima de seus custos de produção”.
Quando a indústria do petróleo tem sorte e os preços sobem, os executivos colhem os lucros, de acordo com uma análise publicada pela revista acadêmica Energy Journal sobre os salários em 78 empresas de energia dos EUA pela economista da Universidade de Michigan, Catherine Hausman, e pelo economista da UC Berkeley, Lucas Davis.
Os executivos tendem a receber aumentos consideráveis quando os preços do petróleo sobem, embora os preços costumem ser impulsionados por forças geopolíticas e outros fatores fora de seu controle, disse Catherine. E quando os preços caem, a remuneração dos executivos não muda.
Além dos produtores de petróleo e executivos, as empresas de cartão de crédito talvez sejam as maiores beneficiárias dos preços altos do petróleo, disse Kloza. Elas recebem uma porcentagem de qualquer preço pago pelo cliente ao abastecer, então sua parcela aumenta junto com os preços da gasolina, mas elas não precisam investir tempo ou recursos adicionais na transação.
Em algumas semanas ou meses, os preços da gasolina vão corresponder àqueles mostrados nos postos, conforme eles pressionam uns aos outros com a redução dos preços em uma batalha lenta e constante por clientes. Mas mesmo com a queda dos preços do petróleo bruto, eles permanecem relativamente altos em termos históricos, tornando improvável no futuro próximo que caiam até chegarem aqueles anteriores à pandemia, dizem os especialistas.