Captada de dentro da cabine de um caminhão, a imagem é impressionante. Primeiro percebe-se um impacto entre duas carretas e uma camada que parece ser combustível se espalhando ao redor do acidente. Em instantes, vem a explosão, para surpresa da pessoa que filma ao longe.
A colisão aconteceu na tarde terça-feira (12) na BR-163, entre Matupá e Gurantã do Norte, matando duas pessoas. A cena é uma parte visível dos dramas humanos de quem perde parentes ou a própria vida na chamada "Estrada da Morte".
Desde 2013 - portanto há dez anos - mais de 700 pessoas morreram no trecho da estrada em Mato Grosso, conforme dados da Polícia Rodoviária Federal.
Só em 2020, foram 84 vítimas fatais. E até julho de 2022, outras 52. Um dos mais graves acidentes deste ano aconteceu em maio, quando oito passageiros de um ônibus morreram região de Sorriso.
A cada tragédia, avoluman-se as críticas às condições da rodovia, que em parte está nas mãos da Concessionária Rota do Oeste e carece de duplicação na maior parte de seu trecho em Mato Grosso.
Em todo o Brasil a rodovia tem uma extensão total de 3.579 quilômetros, cruzando os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Pará.
Somente em Mato Grosso são mais de 1.121 quilômetros. Destes, 855 estão sob concessão da Rota do Oeste.
De acordo com o contrato de concessão firmado com o Governo Federal, há 8 anos, 453 km dos 855 quilômetros de rodovia no Estado deveriam já estar duplicados. Mas apenas 125 foram concluídos.
Para a não conclusão dos trabalhos, a empresa apresenta uma série de justificativas, sendo a principal delas a não concessão do financiamento público por parte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Desde o vencimento do acordo com o Governo Federal, a empresa tem sido alvo de várias críticas e muita pressão – principalmente de políticos, que pedem a retirada da concessionária do controle da via, o fim da cobrança de pedágios e, se possível, o repasse do controle da rodovia para as mãos do Governo do Estado.
Sem conseguir viabilizar uma forma de cumprir com o acordado, a empresa concordou em fazer a devolução amigável de concessão em dezembro de 2021. O processo, apesar de dispensar uma longa disputa judicial, é lento e pode durar, no mínimo, dois anos. Nesta semana, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) afirmou ao governador Mauro Mendes (União Brasil) que novos investimentos só devem ser feitos na estrada daqui a três anos.
A lei exige que a Rota do Oeste permaneça operando e realizando a manutenção da rodovia por meio da cobrança de pedágios até que o Governo Federal estruture uma nova licitação.
Desde o início do funcionamento do pedágio, em setembro de 2015, até abril de 2022, a Rota do Oeste recebeu R$ 2,9 bilhões. Só em 2021 foram a R$ 497 milhões.
No entanto, de acordo com a Rota do Oeste, por mais que um baixo porcentual da rodovia tenha sido duplicado, os dados de mortes na BR anterior à administração privada eram maiores.
Veja a quantidade de mortes na 163 nos últimos 10 anos:
2013 - 100 mortes
2014 - 64 mortes
2015 - 69 mortes
2016 - 66 mortes
2017 - 55 mortes
2018 - 69 mortes
2019 - 67 mortes
2020 - 84 mortes
2021 - 75 mortes
2022 - 52 mortes (até 3 de julho)