Fortalecimento partidário se faz agregando; nunca dispersando. Essa máxima política não é o que se vê no MDB de Mato Grosso, no tocante ao município de Cuiabá. É assim que analistas enxergam a inegável briga rotulada de queda-de-braço entre o presidente regional e líder da sigla, Carlos Bezerra, e o prefeito Emanuel Pinheiro. Mesmo com essa visão eles não se atentaram para um detalhe: Bezerra está no hoje, mas vivendo 2022; Emanuel, também.
Não se pode negar a existência de um fosso entre Bezerra e Emanuel e vice-versa. Esse distanciamento não é motivado por temas de interesse de Cuiabá e nem mesmo por razões partidárias – ao contrário, independentemente de seu desfecho, esse episódio poderá arranhar o MDB.
Nas eleições do ano passado, o MDB elegeu cinco prefeitos de capitais em quatro das cinco regiões brasileiras. Não conquistou prefeitura no Sudeste, mas venceu em duas no Centro-Oeste: Cuiabá e Goiânia; com a morte de Maguito Vilela, o partido deixa o comando de Goiânia para o vice, Rogério Cruz (Republicanos); na região onde se localiza Mato Grosso, a única capital com a sigla é Cuiabá. Caso Emanuel se desfilie, o vácuo regional nas capitais sobe para dois.
Ainda ouvindo analistas, os mesmos avaliam que tanto Bezerra quanto Emanuel são suficientemente experientes para chegarem a um acordo sobre a direção municipal do partido – que em tese seria um dos pivôs da discórdia – e para jogarem panos quentes em qualquer tentativa de retaliação ao prefeito ou de alguma iniciativa de sua parte para se desfiliar. Porém, a verdadeira razão para o desentendimento estaria em 2022.
Bezerra é considerado mão de pilão e não aceita que alguém mova as peças do poder interno do MDB, mas a realidade em Cuiabá – novamente dizem os analistas – é que o partido se representa por Emanuel e não há outro líder exercendo cargo ou que se destaque de modo a ser convidado a se candidatar nas próximas eleições. Além do prefeito, a sigla tem o presidente da Câmara, Juca do Guaraná Filho, que se elegeu com 2.021 votos. No entanto, a composição de forças e o tradicional casamento prefeitura-câmara deixam Emanuel e Juca em eterna lua de mel política. Em suma, uma ruptura com o prefeito causaria efeito dominó sobre o vereador.
No meio da divergência de Bezerra e Emanuel, a deputada estadual Janaína Riva (MDB) atua como se fosse uma espécie de lança-chamas do primeiro. Janaína nasceu em Juara, onde residia quando se elegeu deputada pela primeira vez, em 2014; é filha do ex-deputado estadual e ex-prefeito daquele município, José Riva. Recentemente a parlamentar optou pelo domicílio cuiabano, mas continua sendo vista na condição de representante de Juara. Além dela, na Assembleia o MDB tem Thiago Silva, de Rondonópolis, e Dr. João, de Tangará da Serra; na Câmara, além de Bezerra, a bancada do partido conta com Juarez Costa, de Sinop. Essa representação parlamentar deixa a sigla bem capilarizada nos municípios, mas pouco ou quase nada essa composição influi na Capital.
2022 – Um ditado político diz que uma eleição começa quando a outra termina. Bezerra sabe disso e seu partido construiu uma boa base municipalista nas eleições do ano passado, quando conquistou 23 das 141 prefeituras, com destaque para Cuiabá, Várzea Grande, Primavera do Leste, Diamantino, Água Boa, Vila Bela da Santíssima Trindade e Chapada dos Guimarães, além da vice-prefeitura de Sorriso. Acontece que esses resultados refletem mudanças tanto nas questões internas do partido, quanto no aumento populacional motivado por levas de brasileiros que continuam chegando ao Eldorado chamado Mato Grosso. Demonstrar força em Cuiabá “enquadrando” Emanuel seria um bom recado de Bezerra aos seus liderados ao passo que em caso de tiro pela culatra o desfecho inevitavelmente seria outro, muito diferente.
No MDB, Bezerra desconhece derrota interna, nunca ouviu vozes contrárias e se sente seguro no episódio Emanuel, pois conta com aval da direção nacional e dos deputados mato-grossenses. Acontece, que o prefeito tem um trunfo na manga: sua liderança no município com o maior eleitorado mato-grossense, condição essa que o deixa na mira de partidos para a disputa do governo em 2022. O presidente do partido sabe que em caso de vitória de Emanuel estará aberta a porteira a outros prefeitos que embora emedebistas não rezam por sua cartilha, como é o caso de Kalil Baracat, em Várzea Grande, que segue o senador democrata Jayme Campos; de Adair Moreira, em Alto Paraguai, pertencente ao grupo do vice-governador Otaviano Pivetta; de Mariano Kolankiewicz, em Água Boa, que o conhece por ouvir dizer; e de outros, a exemplo de Toni Dubiella, de Feliz Natal, que compõem o MDB de sempre, porém renovado.
Para se entender melhor o MDB é preciso que antes se observe que o calendário de Bezerra é o de 2022, um pouco antecipado, mas é, pra que se tenha tempo pra articular, negociar, compor e recuar quando essa for a melhor solução. O problema é que Emanuel também vive esse mesmo calendário 25 horas por dia. Ambos loucos pelo poder, amizade ou inimizade, à parte; partido político, também.