Nem sempre as pessoas ficam atentas à saúde bucal, recorrendo ao dentista apenas quando já estão com dor. Esta situação piorou com a vinda da pandemia. Em decorrência da covid-19 muitas pessoas deixaram de procurar atendimento odontológico. O número de consultas odontológicas na rede pública do Brasil caiu 80% com o início da pandemia do coronavírus, revela uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) sobre o impacto da doença no trabalho de dentistas.
Só que esta negligência em fazer o acompanhamento pode ter sérias consequências. A dentista Mirele Nobre e o cardiologista Josely Figueiredo fazem um alerta sobre a relação de doenças cardíacas e a saúde bucal. Ambos fazem parte da equipe do sistema Hapvida Notredame Intermédica.
Mirele, por exemplo, explicou que a boca é uma das portas de entradas para diversas bactérias que ficam incrustadas tanto nos dentes, como nas próteses, quanto nas mucosas e que há riscos em alguns procedimentos. “Essas bactérias em alguns procedimentos odontológicos que envolvem sangramento podem chegar a corrente sanguínea e ao coração”, disse a dentista.
O cardiologista explicou que a mais grave das doenças e a mais comum relacionadas à qualidade da atenção bocal é a endocardite infecciosa, que segundo o médico é uma doença que afeta o endocárdio, a camada de revestimento interno do coração, preferencialmente as válvulas. Pode provocar febre, sopros cardíacos, petéquias, anemia, fenômenos embólicos e vegetações endocárdicas. Além disso, ela também pode acabar resultando em uma insuficiência cardíaca, que pode levar o paciente a óbito, e outras complicações, como AVC, embolia pulmonar ou isquemia dos membros.
“É uma doença que acomete duas vezes mais os homens do que as mulheres. É uma doença grave na qual você precisa normalmente de uma internação e o tratamento dura até quatro semanas com uso de antibiótico”, explicou o cardiologista.
Ele destaca também que as endocardites muitas vezes podem ser evitadas com tratamento preventivo na cadeira do dentista. E Mirela destaca que em muitos casos há indicações de antibióticos até antes da profilaxia.
A dentista completa lembrando a necessidade de visitas regulares ao dentista. “A gente também tem que ter o cuidado com a saúde bucal no geral, fazer as manutenções e os retornos aos dentistas de seis e seis meses. Até porque a saúde bucal é a porta de entrada e por ela podem surgir outros problemas sistêmicos”, lembra.
O médico, por outro lado, recomenda também a visita ao cardiologista regularmente, principalmente pacientes que tenham problemas como hipertensão, por exemplo, ou outras doenças do coração.
Ambos destacam a necessidade de interação entre os profissionais das duas áreas a fim de evitar problemas e ter um acompanhamento preciso, em casos de doenças cardíacas.