O governo federal oficializou, nesta quarta-feira (12), a exoneração de Neri Geller do cargo de Secretário de Política Agrícola, que ocupava no Ministério da Agricultura e Pecuária. A decisão de demiti-lo foi anunciada no fim da manhã de ontem, após suspeitas de conflito de interesse na condução do leilão para importação de arroz pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Duas empresas que intermediaram a participação de três das quatro empresas vencedoras do leilão pertenciariam a um ex-assessor de Neri, Robson Luiz de Almeida França, que é sócio de Marcelo Piccini Geller, filho do ex-secretário. Além disso, o responsável pela realização dos leilões da Conab, Thiago dos Santos, também era ex-assessor de Neri, foi indicado para o cargo por ele e chegou a trabalhar junto a Robson França.
A exoneração, disponível na edição de hoje do Diário Oficial da União, é assinada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, e não traz a informação de que a demissão seria a pedido, como foi inicialmente divulgado pelo ministro Carlos Fávaro.
A opção pela demissão e pela anulação do leilão para importação de arroz foi justamente para tentar evitar que o caso criasse problemas para a imagem do Governo Federal, já que a oposição estava se mobilizando para pedir a instalação de um Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as denúncias.
As empresas Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) e Foco Corretora de Grãos, supostamente de Robson França, intermediaram a venda de 44% do arroz importado por meio de leilão realizado na semana passada. Robson trabalhou entre 2019 e 2020 no gabinete de Neri Geller, quando este era deputado federal por Mato Grosso.
Além disso, Robson seria sócio de Marcelo Geller na empresa GF Business, criada em agosto de 2023 e voltada para o agronegócio.
Nenhuma das vencedoras do leilão possui experiência na cadeia do arroz, o que causou estranheza no mercado. A quarta empresa, que ficou responsável pela importação de 147,3 mil toneladas e que deve receber R$ 736 milhões da Conab, foi a Queijo Minas, uma loja de queijos e laticínios em Macapá (AP). A negociação foi feita pela Bolsa de Cereais e Mercadorias de Londrina (BCLM).
Com a anulação do leilão do arroz, espera-se que um novo edital seja publicado em breve, já que o governo não mudou de ideia sobre a necessidade de importação do produto. O governo decidiu importar arroz para evitar especulações de preço depois das enchentes no Rio Grande do Sul, estado que concentra a maior parte da produção nacional. Os produtores não viram a iniciativa com bons olhos, já que eles garantiam que tinham condições de abastecer o mercado nacional.