Mesmo sem encontrar o corpo de Lucimar Fernandes Aragão, de 40 anos, a Polícia Civil indiciou o ex-namorado dela, Isomauro Alves de Andrade, por feminicídio e ocultação do cadáver. O inquérito foi concluído nesta terça (9), no entanto, investigadores ainda atuam no sentido de localizar os restos mortais da mulher- - saiba mais.
Responsável pela investigação, delegado Fausto Freitas, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), afirmou que todos os indícios levam a crer que o ex-companheiro foi responsável pelo crime. O homem, nega.
Caso é comparado ao do goleiro Bruno Fernandes, acusado pela morte da modelo Eliza Samudio em 2010. Ele foi condenado pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver, sequestro e cárcere privado. Corpo da mulher até hoje não foi encontrado.
“Tem semelhança porque são crimes contra a vida, mas não houve a localização exata dos restos mortais. É possível concluir investigação de homicídio e feminicídio, ainda que não tenha o corpo da vítima. São investigações complexas, mas não é por conta da ausência do corpo que elas não vão ser finalizadas”, disse.
Ana Flávia CorrêaDa esquerda para direita: diretor metropolitano da Polícia Civil, Rodrigo Bastos; delegados Fausto Freitas, Anderson Veiga e Wagner Bassi
Lucimar desapareceu na madrugada de 18 de maio de 2020. Por volta das 5h, ela teria realizado 4 ligações. Na primeira, para um amigo, ela relatou que brigou com o namorado e que temia que ele a agredisse. As duas consecutivas não foram completadas. A última, para a Polícia Militar, foi interrompida após 7 segundos, possivelmente por fatores externos.
“Ela possuía na época um relacionamento conturbado. Inclusive ele havia sido preso menos de um mês antes do crime por violência doméstica contra ela. Ela foi atrás para soltar ele e depois para tirar a tornozeleira. Alguns dias depois aconteceu o desaparecimento”, afirmou o delegado.
Na data do crime, eles tinham 6 meses de relacionamento. Na ligação, que realizou para o amigo, Lucimar relevou que o motivo da briga era um terreno no bairro Parque Geórgia, em Cuiabá. Eles haviam comprado o imóvel juntos e tinham planos de construir uma casa. Ela, no entanto, tinha desejo de interromper os planos do casal.
Denúncia
Caso chegou ao conhecimento da Polícia Civil apenas três meses após o feminicídio, em agosto do mesmo ano. Foi a mãe de Lucimar, a aposentada Luzia Aragão, de 70 anos, quem relatou seu desaparecimento. De acordo com sua versão, ela não tinha contato com familiares, mas nunca havia ficado distante por tanto tempo.
Este foi um dos fatores que dificultou os trabalhos dos investigadores, em conjunto com a Politec. Três meses após o crime, suspeito continuou com os trabalhos para construção da casa. Dessa maneira, todo o local foi restaurado e remodelado por diversas vezes até que caso começasse a ser investigado.
“Não conseguimos localizar o corpo, mas todas as informações levam a crer que ela está morta. Não existe uma única informação, um único vestígio de vida desse ano em que ela está desaparecida. O próprio filho dela, de 18 anos, fala que ela sempre entrou em contato em datas festivas e nesse ano ela não fez isso”, relatou.
Uma das perícias aponta que havia sangue no carro da vítima, estacionado na garagem de sua casa. Resultado final, contudo, ainda não ficou pronto.
Versão descartada
Aos policiais, suspeito informou que ele teria ido até a sua casa em 17 de maio. Ele afirmou que ela teria anunciado que iria viajar para um município no interior e eles tiveram uma noite tranquila. O homem disse ainda que eles teriam dormido juntos e que, na manhã seguinte, teria deixado Lucimar no local ao sair para trabalhar.
Estas informações foram descartadas pelos investigadores. “Ele disse que, por várias vezes, tentou contato com ela depois do desaparecimento e isso comprovadamente não é verdade. Após aquela madrugada ele não tentou realizar nenhuma ligação para o telefone dela. Ele não iria ligar para o telefone de uma pessoa que ele sabe estar morta”, explicou.
O suspeito tem passagens por homicídio, roubo, sequestro e cárcere privado. O caso foi encaminhado para o Ministério Público Estadual (MPE) após a conclusão. Ele foi detido no dia 29 de janeiro desse ano.