"O mercado brasileiro da soja teve a melhor semana da história da sojicultura do país", afirmou o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting ao relatar dias de bons negócios, com mais de cinco milhões de toneladas e os preços mais altos já registrados, tanto no interior, quanto nos portos e indústrias nacionais.
O porto de Rio Grande chegou a registrar, no melhor momento da semana, até R$ 220,00 por saca. Os demais terminais como Paranaguá, Santos e São Francisco chegaram aos R$ 216,00. A volatilidade em Chicago, futuros próximos dos US$ 17,00 por bushel e prêmios muito elevados - que tocaram os US$ 2,00 por bushel acima dos preços da CBOT - e os compradores ávidos pela soja brasileira que conta com uma oferta restrita depois da quebra da safra 2021/22 foram fatores que se alinharam para dar força a tais preços.
E ainda como relatou Brandalizze, os produtores foram estimulados pelo atual momento, principalmente depois que as baixas e os movimentos de realização de lucros se mostraram mais intensos e frequentes - em especial no trigo, puxando o milho na carona. "Esse 'susto' fez com que os produtores voltassem a aparecer no mercado e aproveitassem as oportunidades para fazerem bons negócios muitos aproveitaram", disse. "E se tínhamos, na semana passada, cerca de 55 milhões de toneladas de soja já comercializadas, essa semana passamos de 60 milhões", completa.
Do total dos negócios, de acordo com o consultor, aproximadamente 80% se deu para as exportações e 20% para o mercado interno. A tendência é de que os negócios continuem acontecendo e deverão dar boas oportunidades aos produtores brasileiros durante todo o ano, mesmo
que haja uma acomodação dos valores em patamares um pouco mais baixos.
A semana foi forte e intensa para os preços e vai se encerrando, naturalmente, com uma liquidação e realização de lucros, ainda como explicou Vllamir Brandalizze, mas ainda assim com preços altos. O porto de Rio Grande voltou a pagar cerca de R$ 212,50, enquanto as indústrias no sul do país pagavam cerca de R$ 214,00 a R$ 215,00 por saca, no mercado CIF.
O consultor explica também que os prêmios praticados no mercado brasileiro se arrefeceram, mas mantendo-se em patamares ainda bastante elevados. "Os prêmios estão na casa dos 170 cents, o que ainda é um bom prêmio, mas chegaram a bater nos 200. E eles podem cair mais já que estamos no pico da colheita, entre março e abril há muita oferta, os produtores têm muitos compromissos, então deverá seguir aparecendo vendas", afirma.
A semana foi forte também para os mercados brasileiros de farelo e óleo de soja.
"Nessa semana os destaques ficaram para a disparada dos prêmios do farelo e do óleo de soja na América do Sul", afirma Eduardo Vanin, analista de mercado da Agrinvest Commodities. "Os prêmios do farelo e do óleo de soja na Argentina e no Brasil continuam subindo mesmo com os futuros na CBOT batendo máximas de alguns anos – no caso do óleo está perto do recorde".
Segundo a análise de Vanin, as altas dos prêmios para o óleo se dão pela quebra da safra sul-americana, reduzindo a oferta global de matéria-prima para a produção do derivado, bem como a oferta ajustada nos demais óleos - principalmente o de girassol, já que 80% das exportações globais vêm da região do Leste Europeu. Além disso, a Indonésia elevou o percentual do quanto os vendedores terão que deixar de óleo de palma - o mais consumido no mundo - no mercado interno pde 20% para 30%, ajustando ainda mais a oferta deste óleo.
"Já para farelo, a alta dos prêmios se explica pela guerra. Um impacto não muito óbvio. O gás natural na Europa está custando o olho da cara e está escasso. A Yara Fertilizantes anunciou paralisação de suas operações na Itália e França por falta de gás. Na mesma linha, estão falando que as processadoras de soja estão parando por custos elevados e racionamento de gás. Se elas param, começa a faltar óleo e farelo, obrigando os consumidores de rações a comprar mais derivados na Argentina e no Brasil, seus principais fornecedores", complementa o analista.
BOLSA DE CHICAGO
Neste último pregão da semana, os futuros da soja fecharam em queda na Bolsa de Chicago. As perdas foram de 0,25 a 11 pontos, com o maio valendo US$ 16,79 e o julho com US$ 16,53 por bushel. Os últimos dias foram de muita volatilidade, altas e baixas bastante expressivas, além da continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia e de novos boletins que foram reportados pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) e da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
O mercado testou boas altas com a força da demanda pela soja norte-americana, em especial quando o USDA trouxe as vendas semanais para exportação acima das expectativas e superando dois milhões de toneladas - e também encontrando espaço para os ganhos dos grãos com apoio no mercado de derivados.
As realizações de lucros e os movimentos de correção também vieram se estender entre todos os componententes do complexo soja.