Anvisa autoriza testes com vacina brasileira do Butantan contra covid em humanos

Expectativa é de que entre o fim desse ano e o começo de 2022 os brasileiros tenham doses com produção 100% nacional, avalia médico sanitarista

São Paulo – A vacina brasileira fabricada pelo Instituto Butantan contra o novo coronavírus, a ButanVac, poderá ser testada em humanos. O aval para os testes clínicos foi dado hoje (9) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Essa é a primeira vacina contra a covid-19 com produção 100% nacional, que já está acontecendo desde o fim de abril, segundo o diretor do Butantan, Dimas Covas. Em seu depoimento à CPI da Covid, Covas informou que há cerca de 7 milhões de doses estocadas. A meta, informou ele, é entregar 18 milhões de doses até 31 de julho e 40 milhões até 30 de setembro.

Anvisa informou em nota que o Butantan, instituição pública do estado de São Paulo, ainda deverá apresentar “informações complementares” antes de começar a aplicação experimental da ButanVac. De acordo com reportagem do VivaBem, nas últimas semanas houve “intensa troca de informações” e reuniões com o Butantan para definir a autorização.

O médico sanitarista Pedro Tourinho comemora a vacina criada com verba pública, em laboratório público, financiado 100% pelo SUS. “Nessa pandemia ficou evidente: na hora que o povo precisa, quem tem salvado é o SUS.”

Para ele, a autorização do início dos testes da ButanVac em humanos, de fases 1 e 2, é um passo adiante para a conquista da autonomia da saúde pública brasileira na produção da vacina 100% nacional contra a covid-19. “A expectativa é que dentro de poucos meses tenhamos os testes de fase 3 em curso e, caso fique comprovada a eficácia da vacina, provavelmente entre o fim deste ano e o começo de 2022 teremos doses produzidas com produção 100% nacional sendo aplicadas em brasileiros. E talvez até mesmo sendo exportadas para outros países.”

Vacinação regular

Tourinho lembra que a expectativa é de que teremos de conviver por alguns anos, com a circulação do Sars-CoV-2, o vírus que causa a covid. “Além disso, sabemos que o vírus sofre mutações que podem torná-lo mais transmissível, mais nocivo ou ainda capaz de escapar das defesas criadas por vacinas ou infecções prévias. Por isso, a expectativa também é de que teremos de atualizar vacinas. E possivelmente incluir a vacinação contra covid-19 em um calendário regular de vacinação”, explica, destacando a importância de uma vacina 100% brasileira.

“A ButanVac, assim como outras vacinas que estão sendo desenvolvidas no país, representam a tão necessária autonomia nacional para a produção e atualização de vacinas, algo estratégico em um país com as dimensões do nosso. A dependência da importação de insumos é um dos grandes gargalos do processo de vacinação no Brasil. Essa condição representa um imenso prejuízo à segurança e à soberania nacional brasileira. Atualmente não somos capazes de proteger nosso povo com nossos próprios meios.”

O médico diz que a tecnologia da ButanVac não foi desenvolvida no Brasil. Mas ressalta que a técnica é dominada integralmente por um laboratório nacional, público, que é o Butantan. “Com isso, a atualização da vacina contra novas variantes se torna muito mais fácil e rápida. Além disso, os ingredientes farmacologicamente ativos são produzidos integralmente no Brasil e temos capacidade para facilmente ampliar a escala de produção. Por isso, podemos esperar suprir a maioria, se não a totalidade, da demanda nacional com essa vacina totalmente produzida em solo nacional.”


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