Presidente brasileiro tenta reverter sobretaxa de 50% sobre produtos nacionais e promete “desmistificar fake news” sobre direitos humanos e julgamento de Bolsonaro.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou sua agenda oficial em Jacarta, na Indonésia, nesta quarta-feira (23), e seguiu para Kuala Lumpur, na Malásia, onde deve se reunir no domingo com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O encontro está previsto para ocorrer durante a cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), que reúne chefes de Estado da região e convidados internacionais.
De acordo com auxiliares do Planalto e com o próprio presidente, o encontro entre Lula e Trump já é considerado certo. O principal tema em pauta será o “tarifaz” — o aumento de 50% nas tarifas aplicadas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros exportados ao mercado norte-americano.
Lula afirmou que pretende negociar a redução dessas tarifas para o patamar anterior, em torno de 10%, e “corrigir distorções” nas relações comerciais entre os dois países. Segundo o presidente, a decisão americana foi baseada em “premissas falsas” e informações distorcidas sobre o Brasil.
“A tese pela qual se taxou o Brasil não tem sustentação em nenhuma verdade”, declarou Lula à imprensa em Jacarta. “Os Estados Unidos têm superávit de 410 bilhões de dólares em 15 anos com o Brasil. A ideia de que não há direitos humanos no Brasil também não tem veracidade. Quem comete crime aqui é julgado e punido.”
O governo brasileiro busca, ainda, rebater alegações da Casa Branca de que a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal — a mais de 27 anos de prisão — teria influenciado o endurecimento das tarifas. Segundo nota divulgada por Washington, a medida foi uma forma de “resposta diplomática” às supostas violações de garantias jurídicas no Brasil.
Negociações paralelas
Além da questão tarifária, Lula deve discutir a exploração de terras raras, um insumo estratégico para a indústria de tecnologia e defesa dos Estados Unidos, cuja extração no Brasil desperta grande interesse do governo americano.
Outro ponto sensível deve ser o impacto da Lei Magnitsky, que resultou em sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, sua esposa e outros membros do Judiciário. O governo brasileiro vê a aplicação da lei como uma afronta à soberania nacional e tenta evitar que novas sanções sejam impostas a autoridades brasileiras.
A reunião entre Lula e Trump ocorre em meio a uma crise comercial e política sem precedentes entre os dois países. Desde a decisão unilateral dos EUA de elevar tarifas sobre produtos brasileiros, o Itamaraty vem buscando canais diplomáticos para restabelecer o diálogo e reduzir as tensões.
Fontes próximas à comitiva presidencial avaliam que, apesar do clima tenso, o encontro na Malásia poderá abrir espaço para um recomeço, especialmente se houver acordo parcial sobre as tarifas e um gesto de moderação de ambos os lados.
“Não há necessidade de frescura diplomática”, disse Lula, em tom informal, ao comentar o esperado encontro. “Cada um senta à mesa e diz o que quer, com sinceridade e objetividade.”
O presidente embarcou para Kuala Lumpur acompanhado dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que devem participar das rodadas técnicas de negociação.