Enquanto produtos da cesta básica seguem pagando impostos pesados, as apostas esportivas e jogos de azar recebem tratamento privilegiado do poder público. É a inversão completa de prioridades, onde quem mais precisa paga a conta e quem lucra com o vício e a especulação é favorecido.
Nosso cotidiano já revela essa distorção. Basta olhar o cardápio de qualquer restaurante ou o preço das prateleiras do mercado. O valor vem primeiro, o que vamos comer depois. Não é culpa dos mercados, dos restaurantes, das lanchonetes. A responsabilidade está nos gabinetes de quem deveria legislar pelo povo, mas prefere atender interesses próprios ou de grupos influentes.
O cenário em Brasília comprova isso. Enquanto parlamentares, STF, governo federal e agora até a Advocacia-Geral da União (AGU) se engalfinham por conta do aumento do IOF — aquele imposto que pesa no bolso de todos, sem exceção — nenhum desses atores se mobiliza de forma séria para aprovar um projeto que zere os impostos sobre alimentos básicos.
É o velho jogo de empurrar responsabilidades, enquanto a população paga, literalmente, pela corrupção e pela incompetência.
Dentro de casa, o aperto já é visível. Muitos recorrem a “armários de venda” ou vendas alternativas para complementar a renda e garantir o mínimo necessário. Enquanto isso, o discurso oficial segue rasteiro, sempre alimentando o falso conflito de “ricos contra pobres”, quando, na verdade, o aumento do IOF, dos tributos sobre o consumo e da inflação atinge a todos — do morador da cobertura ao porteiro, do empresário ao trabalhador informal.
A recente movimentação do STF, interferindo em decisões do Congresso, é mais um sintoma desse desequilíbrio. A chamada judicialização da política aprofunda os conflitos entre os poderes e, no final das contas, só agrava a realidade do lado de fora do Planalto.
A impressão que fica é clara: há um consórcio informal entre Planalto e Supremo para impor, via canetada, o que não se consegue no debate público. E, enquanto isso, a fila do desemprego cresce, o preço da comida sobe e o Brasil segue de cabeça para baixo.
E o mais preocupante: há quem aplauda essa inversão de valores.