Os motoristas de aplicativos de transporte urbano de Mato Grosso iniciaram um ‘boicote’ às plataformas, já que não conseguem ser ouvidos pelas empresas em seus pedidos de reajuste de taxas. Aumentos de custos como manutenção de veículo, combustíveis e pneus espremeram a renda desses trabalhadores, forçando muitos a desistirem da atividade. Os poucos que restaram decidiram se organizar para cobrar mudanças no sistema.
O resultado disso já foi percebido pelos usuários, que passaram a ter dificuldades para conseguir um motorista, principalmente nos horários de pico ou ‘mais difíceis’, como as madrugadas. Longe de ser uma exclusividade de Cuiabá, a situação se espalha no país e já existem memes dos mais variados sobre essa batalha.
Só que quem depende da renda proporcionada pelas corridas diárias também está reclamando. Por isso, passaram a selecionar as corridas e descartar aquelas que não pagam o suficiente.
“Aqueles que ainda aceitavam [as condições do sistema] hoje são obrigados a desistir porque, literalmente, quebrou. Já os que fazem as contas todo dia ficaram mais precavidos com as corridas e, se não valer a pena, não vai”, revela Cleber Cardoso, presidente da Associação de Motoristas por Aplicativo de Mato Grosso (AMA-MT).
Há quase cinco anos, os aplicativos de mobilidade urbana iniciaram suas atividades em Mato Grosso. Prometendo mais agilidade e preços acessíveis, logo viraram febre entre a população, pois chegaram com valores acessíveis até para a população de baixa renda.
No começo, parecia que a relação seria de ganha-ganha. A ideia de “trabalhar sem patrão” e com horário flexível animou e houve ampla adesão de motoristas às plataformas. A chegada dos sistemas soou como estratégica para os críticos e providencial para os apoiadores. No momento, o país enfrentava reflexos da crise econômica de 2016, que elevou para mais de 10% o índice de desemprego da população.
O romance durou tempo suficiente para que os trabalhadores desses sistemas, tratados como autônomos pelos criadores das ferramentas, dessem conta das condições precárias que atuavam em troca da "autonomia" vendida pelas plataformas. Nessa fase, persistiram na relação aqueles que não tinham outra alternativa de renda senão se submeter ao sistema.