Morte de diarista e motorista atingidos por Corolla marca ano

O trágico acidente de trânsito que matou a diarista Marcilene Lucia da Silva Pereira e o motorista de aplicativo Igor Rafael Alves dos Santos Silva gerou comoção nas redes sociais e revoltou familiares e amigos das vítimas.

 

O acidente aconteceu na manhã do dia 8 de abril deste ano. Marcilene estava com a filha caçula no banco de trás de um Toyota Etios, a caminho do trabalho, e Igor realizando a corrida, quando foram violentamente atingidos por um Corolla desgovernado e em alta velocidade.

 

A colisão foi registrada por uma câmera de segurança e mostrou mãe e filha sendo arremessadas para fora do veículo, devido ao impacto da batida.

Nas imagens, é possível ver que a colisão é provocada pelo motorista do Corolla ao invadir a pista contrária. Antes de atingir o Etios, o veículo quase acertou outro carro que seguia na mesma direção.


 

A filha da diarista foi encaminhada ao Pronto Socorro Municipal de Várzea Grande, em estado grave, onde ficou internada até o dia 18 daquele mês.

 


A pequena, de apenas 5 anos, quebrou uma perna e teve ferimentos no rosto e cabeça e até precisou ficar em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Sua melhora foi gradativa e só descobriu o que aconteceu com a mãe quando recebeu alta.

 


Não conseguiram concluir o inquérito e aí solta o cara por R$ 24 mil cada vida. É um tapa na cara da gente

Os ocupantes do Corolla não tiveram ferimentos graves e tudo indicava que o motorista estivesse embriagado, devido aos sinais percebidos pelos policiais que atenderam a ocorrência. Ele se recusou a realizar o teste do bafômetro.


 

Prisão e soltura


 


A Justiça determinou a prisão preventiva de Jeferson Nunes Veiga, de 23 anos, por provocar o acidente que causou as mortes de Marcilene e Igor e deixar a filha dela em estado grave, no dia 10 de abril.


A decisão foi dada pelo juiz plantonista André Maurício Lopes Prioli, da 2ª Vara Cível de Várzea Grande. Na determinação, ele citou trecho do boletim de ocorrência que apontou que Jeferson estava em visível estado de embriaguez e teria tentado fugir do local do acidente.


 “[...] A morte do motorista de aplicativo e de uma mãe, além de graves em uma criança, tem causado grande comoção social, com diversas publicações jornalísticas e em redes sociais, além de grande cortejo nos velórios/enterros das vítimas”, disse o magistrado na decisão.


Um mês depois a justiça lhe concedeu liberdade provisória mediante pagamento de fiança, no valor de R$ 48 mil. A decisão atendeu um habeas corpus impetrado pela defesa do mecânico.


O HC foi relatado pelo desembargador Marcos Machado e o voto dele foi seguido pelos membros da Primeira Câmara Criminal.


A defesa do motorista pediu, ainda, a reconsideração do valor da fiança imposta para que ele fosse colocado em liberdade. 


 No pedido, o advogado Rodrigo Pouso Miranda alegou que o acusado é mecânico, trabalha na oficina de bicicleta da família e ganha por mês cerca de R$ 1,2 mil. Declarou que ele mora na casa dos pais, que também são assalariados.


Argumentou ainda que o único veículo da família era o que se envolveu no acidente e hoje não vale mais nada, pois houve perda total.


“Um tapa na cara”


Familiares e amigos da diarista Marcilene ficaram indignados com a decisão da Justiça em conceder liberdade provisória, sob pagamento de fiança, a Jefferson.


“É horrível. Fiquei sabendo que ele só não saiu ainda porque não conseguiu todo o valor”, lamentou Mauro Ricardo Pereira, irmão mais velho da diarista, à época.

 

“Não conseguiram concluir o inquérito e aí solta o cara por R$ 24 mil cada vida. É um tapa na cara da gente. A gente fica perdido, não consegue entender por que não concluíram. O que está faltando para a justiça funcionar direito nesse País?”, questionou.


Depois da soltura de Jefferson, Ricardo falou sobre a sua indignação:  “É uma mistura de indignação, parece até brincadeira”, disse.


“É uma sensação de que no País vale a pena cometer crimes, vale a pena matar. A gente fica com cara de otário, tentamos cumprir todas as leis, fazer tudo certinho, mas pra quê?”, desabafou

É uma sensação de que no País vale a pena cometer crimes, vale a pena matar. A gente fica com cara de otário, tentamos cumprir todas as leis, fazer tudo certinho, mas pra quê?

 

Tinha histórico de violações

 

De acordo com o delegado Christian Cabral, da Delegacia Especializada de Delitos de trânsito, Jeferson já tinha um “histórico de infrações no trânsito”.


 “Em 2015, quando ainda tinha 16 anos, foi detido por direção perigosa. Aos 18 foi detido pela mesma infração e dois anos depois, se envolveu no primeiro acidente", disse o delegado em entrevista ao programa SBT Comunidade.


“Em 2020 se envolveu em um acidente de trânsito de grandes proporções, por sorte sem vítimas. E esse ano, infelizmente, levou a cabo a vida de duas pessoas e deixou outras duas hospitalizadas”, acrescentou.

Devido à embriaguez constatada mesmo após Jeferson se recusar a fazer o teste do bafômetro, ele foi preso em flagrante pelos crimes de lesão corporal culposa qualificada e homicídio culposo qualificado.


 “O problema dele é um problema moral, um problema de respeito às normas de trânsito. Desde a adolescência, ele tem o hábito de infringir as normas de trânsito e gerar perigo aos demais usuários das vias. O álcool foi a cereja do bolo que levou a efetivação desse resultado gravíssimo”, disse o delegado.


 


Comoção e homenagens


 


Marcilene era mãe solteira e sozinha sustentava as três filhas de 16, 11 e 5 anos, que após a sua morte passaram a morar com uma das irmãs da diarista.

“Especial, atenciosa, sorridente, uma mãe-onça que defendia as filhas contra tudo”, assim ela foi descrita pela melhor amiga, a empresária Loíla de Sousa, de 32 anos.


Um cara que vivia rindo, de bem com a vida, tranquilo, querido com todo mundo. Nunca teve nenhum caso de reclamação. Uma pessoa do bem

 


Outros atributos atribuídos à diarista foram o de uma mulher trabalhadora, dedicada à família.


Para Igor, um cortejo fúnebre foi realizado em sua homenagem no dia do seu enterro por colegas de profissão.

A carreata seguiu por avenidas da cidade e terminou no cemitério Souza Lima. A homenagem reuniu dezenas de amigos que fizeram fila ao longo da via até chegar ao cemitério.

 eus familiares e amigos também realizaram um protesto pedindo justiça pelo rapaz e por Marcilene.

Os pais de Igor pediram que a população aderisse ao movimento e se juntassem a eles. O pai dele, Natanael, chamou de assassinato a morte das vítimas.

Segundo Adriano Moreira Fonseca, amigo do jovem, Igor era “um cara que vivia rindo, de bem com a vida, tranquilo, querido com todo mundo. Nunca teve nenhum caso de reclamação. Uma pessoa do bem”, afirmou,

Conforme o trabalhador, Igor tinha uma rotina puxada e, assim como outros motoristas, começava a trabalhar por volta das 4h da manhã, por causa da valorização no preço das corridas.


 


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Redação GNMT