“(…) a chamava na sala para falar para ela ‘pensar bem’ no que estava fazendo, tendo em vista ele ser o chefe e poder mandá-la embora a qualquer momento. Acrescentava, em tom ameaçador, que ele sabia que ela era sozinha aqui em Rondonópolis.
Como a vítima não aceitou as investidas sexuais do suspeito, passados aproximadamente 15 dias após a investida na boate “y”, o gerente de enfermagem do Samu, sr. “z”, chamou a vítima em sua sala para comunicá-la que essa não fazia mais parte do quadro de funcionários do Samu. Ao questionar o motivo, “z” disse que estava cumprindo ordens de H.L.F.”.
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O relato acima é parte de um Boletim de Ocorrência registrado no dia 10/11/2021 na Polícia Judiciária Civil de Rondonópolis. Quem conta a história é uma ex-técnica de enfermagem que, à época, atuava no quadro de socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). H.L.F. -iniciais do citado como assediador pela denunciante- é o ex-coordenador geral. Os nomes foram suprimidos para preservar a integridade dos envolvidos.
O fato teria ocorrido em setembro de 2018. A reportagem teve acesso a este e outros relatos de ex-servidoras, todas com um ponto em comum: supostas investidas e acusações de assédio moral e sexual cometidos pelo médico, então coordenador, dentro e fora do ambiente de trabalho.
“TESTE DO SOFÁ”
Em outro documento obtido pela reportagem, o relato é ainda mais forte. Segundo outra vítima, também ex-servidora do Samu, todas as vezes que se encontrava com o médico ele “falava abertamente que ela teria que fazer um teste do sofá”, diz o B.O. “Ocorre que a vítima sempre dava de desentendida”, segue. O documento traz como data do fato o ano de 2019.
Também ponto comum nas denúncias são as sanções supostamente aplicadas pelo ex-coordenador em decorrência da negativa aos assédios. As ex-servidoras dizem que foram perseguidas e demitidas sem qualquer justificativa. Uma delas, sendo funcionária da Prefeitura, chegou a recorrer, disse, ao prefeito José Carlos do Pátio e a um vereador, questionando a demissão do quadro de servidores do Samu e retornou ao trabalho. Tempo depois, “z” teria lhe comunicado uma nova demissão. A Justificativa: “ordem dada pelo sr. H.L.F., pois era ele quem mandava lá”.
“COM MUITA GENTE…”
Procuradas pela reportagem para a produção desta matéria, ex-servidoras do Samu reafirmaram as denúncias formalizadas em Boletim de Ocorrência, mas, por medo de retaliações, preferiram não gravar entrevista até que ele seja indiciado“Ele fez isso com muita gente e na época ainda chegou a me ameaçar e ameaçar minha família, caso eu falasse alguma coisa. Tive que sair quieta e como ruim da história”, afirmou uma das vítimas.
DENÚNCIAS NA PREFEITURA
Outros dois documentos obtidos pela reportagem mostram, ainda, que ao menos desde novembro de 2021, as denúncias de assédio moral e sexual contra o então coordenador geral do Samu chegaram ao conhecimento da Prefeitura de Rondonópolis. No dia oito daquele mês e daquele ano, um Ofício (número 2093/2021) encaminhado pela Secretaria Municipal de Gestão de Pessoas à Procuradoria trata da abertura de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) contra o ex-coordenador. O documento é assinado pela então secretária frente à Pasta, Carla Carvalho.
Servidoras fazem grave denúncia contra coordenador do Samu de RondonópolisO documento diz, ainda, que “realizou diligências, onde foram apresentados documentos, qual tem como fato possível assédio sexual”. Desde a data do documento, porém, nenhuma resposta foi dada pelo Município às ex-servidoras que fizeram a denúncia.
Ainda conforme apurou a reportagem, há uma investigação do caso em curso no Ministério Público, sob sigilo.
COORDENADOR REBATE
Também procurado pela reportagem do portal AGORA MT, o ex-coordenador citado nas denúncias respondeu: “Não fui notificado, nem pelo boletim policial que a servidora registrou, nem pelo Ministério Público. Assim que for notificado solto uma nota. Mas já estou processando esta servidora por calúnia na justiça comum”.
Junto à resposta, o ex-coordenador enviou uma foto do que seria o referido processo judicial impetrado contra a ex-servidora.
PREFEITURA
A equipe procurou a Prefeitura Municipal, mas ainda não recebeu resposta.