Aumento da inflação traz impacto e pesa na conta de energia

Os gastos com a energia elétrica têm pesado no bolso do brasileiro. Em setembro, a conta de luz foi o item com maior impacto no setor habitacional, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na última sexta-feira (24). Desde 1º de setembro, está em vigor a bandeira tarifária de Escassez Hídrica, que acrescenta R$14,20 para os mesmos 100 kilowatt-hora (KWh) e isso representou uma alta de 3,61% nas contas.

Os aumentos sucessivos no valor da energia elétrica trouxeram dúvidas aos consumidores. Karolline Santana, de Imperatriz, no Maranhão, quer saber por que a conta de energia está mais cara. “Mesmo com toda economia que faço, por que a conta de luz está tão cara?”

Ivan Camargo, professor de engenharia elétrica da Universidade de Brasília (UnB) esclarece a dúvida da vendedora. Segundo ele, os aumentos são ocasionados pela crise hídrica que o país enfrenta.

“A conta de energia elétrica está mais cara porque estamos usando combustíveis fósseis. Usar combustível para gerar energia elétrica é sempre mais caro que usar água. Estamos pagando o preço da escassez de água devido à crise hídrica”, explica.

Gustavo Aquino, morador do Gama, no Distrito Federal, não sabe como funciona a nova bandeira tarifária de luz. “Fico confuso quando chega a conta de energia elétrica com valores altíssimos. Não consigo entender essas bandeiras tarifárias.”

Quem explica essa dúvida é o coordenador de Índice de Preços ao Consumidor da FGV-Ibre, André Braz.

“O sistema de bandeira tarifária é usado quando é necessário acionar fontes alternativas de energia e a diferença de preço é financiada pela bandeira tarifária. Os aumentos na conta de luz não chegam a ser permanentes   e, sim, um aumento transitório enquanto for necessário gerar energia por fontes mais caras. A bandeira de escassez eleva ainda mais a tarifa na taxa de consumo em comparação às bandeiras verde, amarela e vermelha”, apontou Braz.

Ainda segundo o economista, a conta de energia compromete cerca de 4% do orçamento dos brasileiros. “A energia chega a comprometer até 4,5% do orçamento familiar. Isso quer dizer que para cada 1% de aumento de energia, a gente tem um impacto na inflação de 00,5 p.p [ponto percentual]. Isso mostra o quanto a energia pesa no orçamento das famílias e seus aumentos acabam diminuindo o poder aquisitivo principalmente das de baixa renda”, diz.

Crise hídrica

Como foi explicado pelos dois especialistas ouvidos na reportagem, o aumento na conta de luz tem um motivo: a crise hídrica. De acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o Brasil passa pela pior estiagem em nove décadas. Isso acontece porque o nível dos reservatórios do sistema Sudeste/Centro-Oeste chegou a 22,7% em agosto.

Para se ter uma ideia da redução, em agosto do ano passado o mesmo sistema estava em 42,3%.  Esses dois reservatórios têm grande importância para o Brasil porque são responsáveis por quase 70% da geração energia do país.

Enquanto a situação dos reservatórios não se normaliza, a especialista em regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Livia Raggi, pede que as pessoas adotem um consumo consciente de energia elétrica para minimizar os impactos na conta de luz.

“Aproveitar a luz do sol durante o dia e manter as lâmpadas desligadas, manter os aparelhos eletrônicos desligados quando não estiverem sendo utilizados, ajustar o chuveiro para a posição verão em dias mais quentes, evitar banhos longos, não secar as roupas atrás da geladeira, abrir a geladeira quando necessário e pensar no que for comer antes de abri-la. Além disso, manter portas e janelas fechadas quando o ar-condicionado estiver ligado e desligá-lo sempre que for se ausentar do ambiente por mais tempo.  Instalar e utilizar os equipamentos elétricos conforme recomendações dos manuais, usar o ferro e a máquina de lavar com menos frequência. Recomendo acumular roupas sempre que possível”, aconselha.



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Redação GNMT