O PT está eufórico com o apoio que a candidatura Lula conquistou nos últimos dias num segmento quase eminentemente bolsonarista: o agronegócio.
O petista está “entrando” num dos estados mais pró-Bolsonaro do país, que é o Mato Grosso. Em 2018, esses eleitores deram 66,4% de votos ao atual presidente, na disputa contra Fernando Haddad.
Na última pesquisa do Datafolha, Bolsonaro alcançava 32% no Centro-Oeste, contra 25% de Lula.
Na semana que passou, Lula ganhou a adesão de uma turma forte do agronegócio matogrossense. Estão com o PT o senador licenciado Carlos Fávaro, do PSD de Kassab, e o deputado federal Neri Geller, do PP de Arthur Lira.
Juntos, trazem o apoio da família Maggi, onde estão os maiores produtores de soja do mundo.
Os dois – Fávaro e Geller – estiveram com Lula e Geraldo Alckmin semana passada, em Brasília. Posaram para fotos e oficializaram o apoio.
Desde o anúncio, os dois estão sendo alvos de críticas e de notas de repúdio de um ou outro sindicato rural no estado, mas também têm recebido apoios, esses mais discretos e em silêncio.
Fávaro, que já foi um assentado da reforma agrária e hoje é uma agropecuarista de peso no estado, conversou com o Blog do Noblat sobre esse momento. Está convicto de sua escolha. Ele argumenta, com dados comparativos, que as gestões do PT foram muito mais vantajosas para o agronegócio que esses quatro anos de Bolsonaro.
A seguir, trechos da entrevista.
Blog do Noblat – Por que o sr. decidiu apoiar Lula, sendo de um segmento que majoritariamente apoia Bolsonaro?
Carlos Fávaro – Sou paranaense, filho de pequeno produtor de Londrina (PR). Sou fruto da reforma agrária. Fui assentado. Vivi muita coisa até hoje. De assentado a presidente da Aprosoja, já fui vice-governador e estou senador. Venho refletindo muito e não foi difícil chegar a conclusão de que é muito melhor o Lula voltar. É só comparar o que os dois fizeram pelo agro.
Olha as rodovias, por exemplo. Aqui no Mato Grosso, a BR-364 foi pavimentada nos governos do PT. É que escoa a produção até Rio Madeira. A BR-163 não tinha asfalto e está toda pavimentada, até Santarém. Desses mil quilômetros, 950 foram nos governos do PT.
Bolsonaro fez 50 quilômetros e não fez licenciamento, nada. A BR 242, de Sorriso a Querência. Foi o governo do PT e Bolsonaro não fez um metro. Não deu conta.
Foi no governo do PT que obtivemos uma grande vitória na OMC (Organização Mundial do Comércio) no contencioso do algodão. O que Bolsonaro fez nesses quatro anos para o agronegócio? Zero.
Blog do Noblat – Onde mais o governo Bolsonaro fracassou com o agro?
Carlos Fávaro – Bolsonaro só avançou no desmatamento ilegal, com apoio a grilagem na Amazônia, o que atraplha e muito o mercado internacional de comprados. Nos governos Lula e Dilma a taxa de juros dos fundos constitucionais eram de 7,5% a 8%. Hoje está em 22% ao ano. Uma inadimplência gigante. Ninguém consegue pagar.
Empresário da agroindústria e comerciante não conseguem pagar. Comparando tudo isso é inevitável. Olha os avanços sociais no governo Lula. Foi no governo do PT que o filho de um trabalhador pôde fazer faculdade particular. O Minha Casa Minha Vida, o Bolsa Família. Olha essa inaceitável fila enorme da fome. Cada vez maior.
Um terço da população está abaixo da linha da pobreza. Estão na fila do ossinho. Fazem fila no supermercado para buscar osso para fazer um escaldado, uma sopa. Isso num estado rico como o Mato Grosso, gente na fila para pegar osso. Não dá para ficar insensível.
Blog do Noblat – O sr. e o deputado Geller têm sido alvos de críticas e de notas de repúdio de sindicatos rurais no estado pelo apoio ao PT. Como estão lidando com isso?
Carlos Fávaro – Alguns sindicatos aqui, aparelhados, estão divulgando nota criticando nosso apoio ao PT, dizem que apoiamos o MST, que invade terra. Ora, fui dirigente de sindicato, presidente da Aprosoja. Sou contra invasão de terra, contra a bagunça. Não contra a reforma agrária. Sou a favor, desde que indenizando, pagando o preço justo.
Agora, eles, dos sindicatos, são incapazes de divulgarem nota contra a fila do osso. Isso não fazem. Ninguém fez nota de repúdio quando o governo vendeu os ativos com a garantia real do Banco do Brasil e que agora estão inadimplentes. E tome juros. E hoje para pagar dívida tem que vender terra.
Ora, quem tinha medo de perder terra para o MST hoje está perdendo para o BTG, para o Bolsonaro e para o Paulo Guedes. Não é o MST, é o Bolsonaro quem toma nossas terras. São eles que venderam as dívidas dos ruralistas a 12% e agora estão pegando as terras e levando a leilão. Lula foi presidente por oito anos. Não tirou terra de ninguém.
Blog do Noblat – Os srs. têm recebido apoio também pela adesão ao Lula?
Carlos Fávaro – Sim. Muitos produtores como eu gostariam de falar, mas preferem ficar quietos. Porque se falarem serão atacados, como eu e o Neri estamos sendo. Atacados por esses talibãs do whatsapp, das redes sociais.
Valentões que ficam atrás do celular. Mas são muitas as mensagens de apoio que vêm do país inteiro. Dentro e fora do agro. Lula foi presidente por oito anos.