O Brasil vai fechando mais uma semana com poucos novos negócios sendo efetivados no mercado da soja. Os preços se acomodaram nos últimos dias, acumulam perdas de até 20% no últimos 30 dias em algumas praças, e afastam aina mais os já distantes vendedores do mercado. Parte desta pressão vem do câmbio, mas também com os compradores se retirando do mercado com a chegada do final do ano.
"A maioria das indústrias já está parada e os produtores já venderam bastante. Temos apenas negócios escassos e agora não há novos fechamentos", explica Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting.
DÓLAR
No intervalo de 3 de novembro a 3 de dezembro, o dólar comercial perdeu mais de 10%, passando de R$ 5,75 para R$ 5,13. As baixas recentes se deram, principalmente, com melhores notícias sobre a economia do Brasil. No terceiro trimestre do ano, dados dos PIB (Produto Interno Bruto) trouxeram um crescimento recorde de 7,7%, de acordo com o IBGE.
Nos primeiros quatro dias de dezembro, de acordo com a agência de notícias Reuters, o real já apresenta uma valorização de 3,6%, enquanto o dólar se mantém próximo de sua mínima em quatro meses. Assim, este passa a ser, em meses, o melhor desempenho da moeda brasileira desde 3 de novembro.
"Vemos uma janela de oportunidade para aumento de otimismo em relação aos ativos brasileiros nos próximos meses", disseram analistas do Barclays em nota, ainda segundo a Reuters.
A volatilidade para o dólar, todavia, deve se estender para o próximo ano, focado não só nas questões internas, mas também no andamento da retomada da economia global no pós pandemia.
Dessa forma, algumas praças como Sorriso, em Mato Grosso, acumulam uma perda de 20%, com sua referência para a soja disponível passando de R$ 175,00, em 3 de novembro, para R$ 140,00 por saca. Já em Tangará da Serra, a perda foi mais tímida - de 1,75% - com o valor caindo de R$ 160,00 para R$ 158,00.
No Mato Grosso do Sul, em São Gabriel do Oeste, a perda foi de 11,76%, com o preço passando de R$ 170,00 para R$ 150,00 por saca; em Jataí, Goiás, perda de 7,05% no mesmo intervalo de R$ 156,00 para R$ 145,00; e em Castro, no Paraná, a saca da oleaginosa foi de R$ 160,00 para R$ 147,00, com uma baixa acumulada de 8,13%.
Ainda como explica Brandalizze, as indústrias estão bem abastecidas, fecharam bem o ano - apesar das margens um pouco mais ajustadas dada a pouca oferta e os preços do grão bastante elevados, em patamares recordes - e devem começar 2021 "com o pé no acelerador". E assim, o setor deverá, portanto, dominar a demanda no começo do próximo ano.
Depois do dia 10 de janeiro, as atividades serão reestabelecidas e a procura pela matéria-prima será intensa, puxada, principalmente pelo setor de rações. "O Brasil deverá seguir como grande exportador de proteínas, e teremos também a demanda do setor do óleo", diz o consultor.
Para o ano que vem, além das projeções de exportações maiores de carnes pelo país, há a previsão ainda do B13, ou seja, a mistura de 13% de biodiesel - onde a principal matéria-prima é o óleo de soja - no óleo diesel. E por isso, Brandalizze não aposta em uma disputa entre exportações e demanda interna no começo de 2021, mas sim um destaque do consumo interno.
"Além disso, o mercado interno ainda paga melhor do que a exportação e a China está bem comprada também para os próximos meses", complementa Brandalizze.
SAFRA NOVA
Da safra nova, são mais de 165 milhões de toneladas já comercializadas pelos produtores brasileiros e, frente a um desenvolvimento ainda bastante incerto diante das adversidades climáticas, o sojicultor segue evitando novos negócios. "O atraso que se deu, principalmente no começo do plantio, assustou todo mundo e agora as vendas novas são escassas", diz o consultor.
Também sentindo alguma pressão do dólar - mesmo sendo sustentada pelos altos níveis em Chicago e pelos prêmios positivos - os atuais patamares de preços nos portos para a soja da safra nova nos portos do país variando entre R$ 137,00 e R$ 141,00 por saca também não atraem os vendedores.
"Esse é um mercado típico de final de ano, de dezembro, é calmaria", conclui Vlamir Brandalizze.
PREÇOS EM 2021
A frente, as perspectivas para os preços são positivas e firmadas na ajustada relação de oferta e demanda que já é conhecida pelo mercado, ainda como explicam os especialistas.
"O produtor vai continuar vendendo esporadicamente, da mão para a boca, e vai seguir essa conduta", acredita Ginaldo de Sousa, diretor geral do Grupo Labhoro. "Ele está tranquilo, com dinheiro em caixa, guardar essa soja e vender no ano que vem. Ele não vai mais vender soja essa ano".