Cotonicultores mato-grossenses à beira da loucura. Baixa produtividade. Produção pequena. As lavouras sob ataque. Diretor da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), Clóves Vettorato reuniu os pioneiros do algodão em escala empresarial. Dentre eles André Maggi, Inácio Mamana, os irmãos Sachetti, Orlando Polato e Gilberto Goellner. Com eles criou um núcleo de algodão na Fundação MT. Arrecadou fundos. Resolveu o problema.
Algodão havia. Faltava política para o setor. Vettorato criou o arcabouço do Programa de Incentivo à Lavoura do Algodão (Proalmat) e do Fundo de Apoio à Cultura do Algodão (Facual). Levou ambas as propostas ao governo. Pronto. Mato Grosso passou a responder por metade da pluma produzida no Brasil.
Mentor do Projeto Granjas de Qualidade, Vettorato também presidiu a Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat) e dirigiu o Frigorífico Agra, em Rondonópolis.
Grandes lavouras exigem sementes suficientes e de boa qualidade. A idealização da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat) tem as digitais de Vettorato, que também a presidiu.
O ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, precisava de um braço-direito que representasse Mato Grosso, o maior celeiro do Brasil. Indicado por unanimidade pelos produtores, Vettorato foi abre-alas da economia mato-grossense nos bastidores em Brasília.
Blairo Maggi se elegeu governador em 2002. Vettorato foi o primeiro nome para compor a equipe de transição. Reuniu os cacos e preparou o caminho para Blairo.
Secretário de Projetos Estratégicos e de Desenvolvimento Rural no primeiro mandato de Maggi, e de Projetos Estratégicos no governo em curso, Vettorato sempre foi peça-chave no planejamento do Estado.
Quando a fogueira da vaidade ardia em algum setor do Paiaguás, era bombeiro.
Certa tarde num fim de semana, percorrendo ruas de Cuiabá com amigos visitantes, não encontrou sequer uma porta de museu aberta. Exigiu como se deve exigir e a Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa) restaurou o Palácio da Instrução. Gostou do que fez e parte do Patrimônio Histórico cuiabano foi restaurada em parcerias do governo com o Banco do Brasil e multinacionais do agronegócio.
Leal ao amigo Blairo exercia o cargo com fidelidade. Íntegro. Honrado. Jamais seu nome esteve associado a escândalo.
Caminho de sonhos. Rota terrestre preferencial para quem troca o Sul pelo horizonte que se descortina no coração do continente, a BR-163 também abriu passagem rumo a Rondonópolis ao administrador de empresas e administrador público Clóves Felício Vettorato, gaúcho de Santo Ângelo, casado com Elizabeth e pai do advogado tributarista Gustavo Vettorato.
Na vida pública Vettorato não economizou trabalho nem competência nos projetos e planejamentos. Atraiu empresas. Superou barreiras. Venceu obstáculos. Soube ‘vender’ as potencialidades mato-grossenses a investidores. Obstinado e organizado lançou raios de luz sobre as trevas do amanhã onde interesses inconfessáveis tentam enfiar Mato Grosso. Avesso aos holofotes foi ousado sonhador.
Em silêncio, construiu sua trajetória. Tão silencioso quanto viveu, partiu após uma dolorosa luta contra o câncer, no auge de sua capacidade criativa e na plenitude da maturidade. Seu legado é uma das mais importantes páginas da construção do Mato Grosso moderno, desenvolvimentista e vibrante, ao qual emprestou o máximo de sua inteligência.
PS – O texto acima, de minha autoria, foi publicado na edição de 20 de abril de 2008, no Jornal Diário de Cuiabá, com o indicativo LUTO e o título Legado do sonhador que abriu alas ao agronegócio, sobre a morte de Vettorato, na sexta-feira, 18 daquele mês, na UTI do Hospital Santa Rosa, em Cuiabá, por falência múltipla dos órgãos e neoplasia nos pulmões. Seu corpo foi sepultado com honras militares no Cemitério Parque Bom Jesus, em Cuiabá, após velório no saguão do Cenarium Rural do Senar.