Um dos personagens mais representativos da história de Rondonópolis, o pioneiro Aureo Candido Costa acumula, além dos muitos feitos empresariais no município, uma trajetória marcante na vida notarial e de registros da população local. Ao todo, já são 57 anos ininterruptos exercendo a profissão de tabelião, considerando os Cartórios de 3º e 4º Ofícios.
A oportunidade de atuar como tabelião surgiu em 1967, quando o então juiz da Comarca, o desembargador Mauro José Pereira, lhe procurou para mostrar a situação do Cartório do 3º Ofício e lhe fez a proposta para assumir a serventia como tabelião interino. Na época, o Cartório do 3º Ofício vivia sob comando ora do Cartório do 1º Ofício, ora do Cartório do 2º Ofício.
Antes disso, Aureo atuava em Rondonópolis na regularização e venda dos lotes da Vila Aurora, mas, de pronto, aceitou o novo desafio. Naquele período, o 3º Ofício exercia a função de cartório judicial, criminal e ainda eleitoral, com uma ampla atuação na cidade. “O desembargador Mauro José me nomeou e comecei nova vida. Nunca tive medo de desafio na minha vida. Sou muito otimista, em tudo que vou fazer primeiro vem o otimismo”, conta.
Logo em seguida, foi lançado o edital do concurso para tabelião dos Cartórios de 3º e 4º Ofícios de Rondonópolis. Com muito empenho e estudo, Aureo passou em primeiro lugar para as duas serventias. Nisso, não esquece o companheirismo do amigo Cláudio Xavier de Lima, que também fez o concurso e estudou com ele, e do desembargador Mauro José, que lhe emprestava livros e lhe esclarecia dúvidas relacionadas ao conteúdo previsto.
Apesar de ter preferência pelo 3º Ofício, que já possuía um arquivo e era mais lucrativo, Aureo Costa abriu mão dessa serventia para que o amigo Cláudio Xavier, que havia ficado em segundo lugar no concurso, pudesse assumi-lo. Assim, optou pelo Cartório do 4º Ofício, sendo nomeado tabelião em janeiro de 1970. “Desde então, sou tabelião efetivo com muita honra, respeito e muita vontade de trabalhar corretamente. Nunca tive uma repreensão; só elogios do Tribunal de Justiça e de corregedores que passaram por aqui”, atesta.
O primeiro endereço do Cartório do 4º Ofício também ficava na Avenida Amazonas, onde era a farmácia do pioneiro Osvaldo Pinto. Como Rondonópolis não dispunha de um espaço próprio, o Fórum da Comarca funcionou nas mesmas instalações do 4º Oficio por mais de três anos. Depois, comprou uma casa de adobe ao lado e fez um salão onde funcionava até então o Cartório. Mais tarde, o salão foi derrubado e construído um prédio de dois andares, muito moderno para época. Por fim, em 2020, concluiu e inaugurou as novas e amplas instalações do 4º Ofício, agora na esquina da Avenida Amazonas com a Rua João Pessoa.
Nessas mais de cinco décadas, o tabelião acompanhou as profundas mudanças nas mais diversas áreas. “Na parte legislativa, mudou muito. Todo dia surge uma nova lei, uma nova portaria do Tribunal de Justiça, novos provimentos e regimentos. A gente tem de estar sempre atualizando. Por isso que o tabelião é uma profissão que exige muito estudo, porque tem de estar acompanhando essas mudanças”, observa.
Contudo, a principal mudança verificada nesse tempo foi na tecnologia. “Os protestos eram feitos à mão, escritos com caneta. Depois começamos a fazer isso de forma datilografada, obtendo a segunda via com carbono. Por fim, veio a informática. Na fila das invenções tecnológicas vieram as procurações e as escrituras, hoje feitas de maneira rápida e segura, com a perfeição impregnada pelos computadores e impressoras. Fui o primeiro tabelião a informatizar cartório em Mato Grosso. Alguns cartórios me acompanharam depois, no caso de Cuiabá. Falo isso com muito orgulho”, relata.
Com o advento e o avanço da informática, o processo de emissão dos protestos foi agilizado grandemente. Se antigamente, o Cartório do 4º Ofício fazia uma média de 50 títulos de protestos por mês, hoje tem condições de emitir até 20.000 protestos em um único dia. Isso de forma eficiente e integrada a todo o país. Atualmente, dispõe de uma equipe com mais de 30 colaboradores, altamente capacitada.
Apesar de ter já exercido outras profissões e ter outras fontes de renda, Aureo Costa considera a profissão de tabelião como tudo em sua vida. “Consegui fazer um Cartório de acordo com o meu ideal. Queria uma serventia funcional, bem equipada, bem mobiliada, com conforto para os clientes, para o funcionários e para mim. Isso foi uma grande vitória que conquistei nesse período. Hoje nosso Cartório serve até de exemplo para cartórios de outras comarcas”, finaliza.
Vale dizer ainda que, por um período de 32 anos, Aureo também foi nomeado interventor do Cartório de Paz de São José do Planalto, em Pedra Preta.